Semana 1: Titans 43 x 13 Browns

Eduardo Dezan
08/09/2019 18:01 • Atualizado em 08/09/2019 18:05

Semana 1: Titans 43 x 13 Browns



Onde você estava em 1º de janeiro de 1995? Talvez você estivesse em algum encontro familiar regado a comidas sazonais e espumante barato comprados com a recém estabelecida nova moeda do Brasil, o real. Talvez você estivesse num sofá assistindo uma retrospectiva do ano de 1994, que lembrava com destaque a euforia nacional do tetracampeonato da seleção da icônica dupla Aldair e Márcio Santos. Talvez você ainda nem existisse. Onde quer que você estivesse, esse dia marcou também a última vitória em playoffs do Cleveland Browns. Treinado na época por ninguém menos que Bill Belichick e superando os próprios New England Patriots, a esquadra laranja encontrava nesse dia sua última felicidade em pós temporada.

 

Adiantamos o filme para 2016. Desde a vitória na noite do dia da confraternização universal de 1995, os Browns tiveram uma participação em playoffs (2002) sem vitórias, apenas duas temporadas com mais vitórias do que derrotas e assistiram até o time fechar por alguns anos quando seu dono original resolveu mover a franquia para Baltimore. A surrada equipe de Cleveland então contrata Hue Jackson para o cargo de treinador e o resultado foram duas temporadas e meia com o seguinte desempenho: 1-15; 0-16; 2-5-1. Poucos torcedores de equipes de esportes coletivos poderiam se queixar de uma sina tão cruel quanto à dos Browns. Junto à Lions, Texans e Jaguars, os Browns são a única franquia que nunca pisou nos verdejantes tapetes de um Super Bowl.

 

A demissão de Hue Jackson no meio da temporada era mais que aguardada e após isso, liderados pelo novo técnico Freddie Kitchens, os Browns arrumaram a cozinha. Com destaque para o quarterback rookie Baker Mayfield, uma pequena renascença foi observada com um desempenho de 5-3 na segunda metade de 2018.

 

Motivos para acreditar em novos ares já existiam com o bom desempenho de Baker, Myles Garrett e Denzel Ward ano passado, mas então uma negociação com o potencial de mudar de vez corações e mentes aconteceu. Odell Beckham Junior e todo seu estilo invocado, personalidade singular e talento colossal foi adicionado ao elenco de Cleveland, finalmente solto do purgatório que vivia em Nova York tentando recolher passes do envelhecido caçula dos Manning. As esperanças não poderiam estar mais cintilantes para uma torcida acostumada a derrotas.

 

A estreia era em casa, contra um adversário não muito intimidador: o Titans de Mariota. A arquibancada lotada pulsava e o primeiro drive do time local não poderia ser mais promissor: com participações de Baker, OBJ e do running back Nick Chubb, os Browns assinalavam o touchdown. Porém, as três fiandeiras que na mitologia nórdica tecem o destino dos deuses aos pés da árvore da vida Yggdrassil davam risada e balançavam a cabeça negativamente.

 

Tudo começou com o inofensivo extra point, que o kicker dos Browns errou, mantendo o placar em 6x0. A seguir os Titans descontaram com field goal de 37 jardas do tupiniquim Cairo Santos (que ainda faria outro de 53 jardas e acertaria todos seus extra points, numa tarde perfeita). O que se observou na sequência foi um desmoronamento emocional dos jogadores de Cleveland. Fazendo sucessivas faltas em momentos decisivos, o ataque não conseguia avançar em campo, deixando Mayfield com terceiras descidas longas. Já a defesa não deixava por menos e em um drive em que fez nada menos do que QUATRO faltas em terceiras descidas que resultaram em first down automático, permitiu que os Titans fizessem o touchdown.

 

A torcida chiava contra a arbitragem ou contra seu próprio time, que teve até jogador expulso de campo em nova falta defensiva, quando numa campanha que começou na linha de 2 jardas defensiva, Baker foi sacado para um safety. O primeiro tempo terminaria 12x6 para os Titans em pontos e 10 x 3 para os Browns em faltas, que perderam 107 jardas ao total.

 

No segundo tempo um fio de esperança surgiu quando num drive que iniciou novamente com 3 faltas ofensivas, Baker conseguiu conectar dois passes longos em sequência para Jarvis Landry, percorrendo o campo e assinalando um touchdown. Naquele instante mágico, o jogo estava 15 x 13 para o Titans e parecia que tudo poderia acontecer. Até uma desgraça.

 

A esperança foi logo sufocada quando no primeiro lance de ataque do Titans após o TD de Cleveland, um screen pass para Derrick Henry resultou em um imediato touchdown de resposta para 75 jardas. Esse lance que colocava o adversário na frente do placar por 22 x13 terminou por desmanchar o já combalido psicológico dos Browns e quem estrebuchou de forma mais flagrante foi o líder do time dentro de campo.

 

Nos drives seguintes, um errático Baker Mayfield foi interceptado três vezes, resultando em três touchdowns para o Titans e um placar de 43 x 13 que talvez não faça justiça à diferença entre os times, mas faz justiça ao tamanho do destempero emocional de Cleveland em sua estreia. Ao finalizar a partida com 16 faltas para mais de 150 jardas, os Browns igualaram o recorde de faltas da franquia que vinha dos anos 1950.


Se por um lado as fiandeiras embaixo de Yggdrassil parecem não ter se divertido ainda o suficiente com o sofrimento da torcida dos Cleveland Browns, por outro existem motivos para respirar fundo e recomeçar na semana que vem. OBJ foi participativo e, se não brilhante, teve uma boa partida. Nick Chubb correu bem por diversas vezes. A defesa parecia ser capaz de parar os Titans, até que uma falta fazia o drive recomeçar em primeira descida. Baker Mayfield jogava bem, com 11 passes completos seguidos até desmanchar aos olhos dos incrédulos torcedores. Se faltam motivos para sorrir hoje, certamente não faltam para seguir sonhando. Nada pode ser para sempre. Pode?



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